Outros posts:

EMO the Musical [Crítica]

“Emo the Musical” é um filme australiano, que inclusive faz questão de deixar claro esse atributo, com uma estranha mistura de gêneros que, curiosamente, não me incomodou tanto aqui. Para quem ainda não sabe, eu não sou lá muito fã de musicais, a não ser em animações. Mas aqui a trama absorveu tão bem essa pegada irreverente da música como elemento narrativo que nem me distanciou tanto da história contada. Preciso confessar também que muitos elementos desse filme mexeram muito comigo numa relação muito pessoal e isso talvez influencie um pouco meu texto. De qualquer maneira, acredito que essa deva ser, ao menos, uma boa surpresa como obra cinematográfica para qualquer um.
A história acompanha um garoto EMO que é expulso da sua antiga escola já que suas atitudes de EMO não são aceitas por lá e acaba indo parar numa escola ainda mais estranha e controversa. Pelo menos por lá ele encontra uma banda EMO – tá bom, parei – que está se preparando para um importante apresentação. É aí que ele decide fazer o que puder para impressionar o líder da banda e fazer parte como guitarrista. O problema é que ele não esperava se apaixonar por uma garota do grupo cristão da escola. Esse amor controverso o coloca numa encruzilhada, entre o céu e o inferno.
Pra começar eu quero tocar num ponto muito importante desse filme e que me agradou bastante. Eu amei a forma como o roteiro conseguiu driblar o baixo orçamento com justificativas ilógicas no mundo real, mas condizentes com a maluquice do universo da obra. Isso me ajudou a me apegar ainda mais pelo humor do filme. Uma coisa que me faz, geralmente, desapegar de filmes é sua característica de ser um musical, mas aqui o contexto da banda e a escola de gente meio perturbada não atrapalhou tanto minha imersão. Na verdade esse foi um filme no qual minha imersão pouco importou. Eu consegui me conectar com todos os personagens mesmo tendo ciência por toda a duração que tudo aquilo se tratava de um filme. Isso é incomum, pois geralmente eu me entrego à história de um jeito que eu esqueço que estou vendo um filme, mas aqui eu tive a sensação oposta e ela não foi de todo ruim.
Eu adorei a construção dos personagens dessa obra e como suas ambiguidades e controvérsias se amontoavam em cima dos estereótipos que cada um tentava manter. Essa dinâmica foi maravilhosa e acredito que o filme se sustente nisso. Por mais que não seja totalmente uniforme, o filme conseguiu me prender pelo seu início. Seu arco de apresentação me propôs uma situação tão excêntrica que foi aí que ele me cativou. Mesmo que alguns personagens não sejam tão bem desenvolvidos – talvez porque eu me apeguei a uma em específico, mas tudo bem – algo de alguma forma me fez se apegar a todos, pelo menos um pouco.
A trama, como falei, se baseia num contexto escolar adolescente onde todos estão cobertos pelas suas máscaras sociais e acreditam ter a necessidade de se encaixar na sua bolha. A quebra desses estereótipos ou o apego voraz a eles traz para o filme um desenrolar caótico, mas estranhamente agradável. Eu gostei muito como o roteiro brincou com a hipocrisia e a ambiguidade de ideias e ideologias com primor. A religião foi um ponto muito bem abordado e as críticas foram muito divertidas. O tom desse filme me fez lembrar de “Nunca Fui Santa”, outra obra satírica que aborda temas e contextos semelhantes.
A inconstância do filme foi um ponto negativo. Pra mim a obra terminou num ritmo pior do que começou, mas nada que estragasse totalmente o longa. A apresentação e até certo ponto do desenvolvimento me pareceram ótimos, mas algumas escolhas narrativas e coincidências que o roteiro introduziu me afastaram da sua conclusão, assim como a atitude exagerada de alguns personagens ainda no desenvolvimento que, mesmo num filme com um tom exagerado como este, ainda assim me pareceram desnecessárias. Talvez por essas atitudes virem acompanhadas de uma canção.
Mesmo assim, essa é uma sátira bem legal ao contexto conturbado que os jovens geralmente passam tentando encontrar seu grupo e o seu “eu social”. Talvez seja exatamente aí que o filme me tocou intimamente. Acredito que ele me tocou emocionalmente por esse motivo e várias vezes eu pausei pra ficar refletindo a respeito de muita coisa que acontecia no longa. De qualquer forma, essa foi uma experiência muito interessante e uma grata surpresa levando em consideração que eu fui encarregado de assistir esse filme como desafio – agradeço pela sua escolha, Gessica.
É sempre bom encontrar filmes assim, dos quais não se espera nada e até parecem estranhos à primeira vista, mas que escondem boas ideias que estão perdidas nos confins do enorme universo cinematográfico mundial, fora dos grandes polos produtivos. Espero encontrar mais obras assim próximo ano, além, é claro, de todos os outros grandes filmes que eu também faço questão de assistir. Sendo esse o último filme de 2023, acredito que eu encerro bem o meu ano e desde já desejo um feliz 2024!

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalEMO the Musical
Lançamento2016
País de OrigemAustrália
DistribuidoraGunpowder & Sky
Duração1h34m
DireçãoNeil Triffett

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora