Outros posts:

Quase Deuses [Crítica]

Essa é a história de Vivien Thomas, um personagem pra mim desconhecido, mas um nome muito importante na história da medicina, mesmo que o seu reconhecimento tenha sido tardio. A sua relação com o Dr. Alfred Blalock é o motor dessa trama e conduz uma obra biográfica bem interessante, mesmo sendo uma produção pra TV, apresentando, dessa maneira, uma forma um pouco peculiar.
A obra é uma biografia de dois personagens. Mesmo que a trama gire em torno do protagonista Vivien, a história depende muito do seu parceiro de profissão, mesmo essa parceria não se mostrando tão honrosa em muitos casos. A relação dos dois, como eu já mencionei, é o ponto central da narrativa e os conduz pelos desdobramentos de suas pesquisas na área de cirurgias cardíacas. Suas teorias e experimentos são postos a prova numa cirurgia pioneira em um caso complicado de um bebê com grave problema de saúde que, segundo a medicina tradicional, estava condenado a morte, mas com as novas técnicas desenvolvidas pelos médicos protagonistas desse filme, dão uma nova esperança para a criança, seus pais e diversos outros pais que têm filhos nas mesmas condições. Até aqui já teríamos uma história de superação interessante a ser contada, mas o outro tema que coloca Vivien Thomas ainda mais como protagonista desse filme é o fato de ele ser um negro que desafiou o sistema segregacionista da época para poder desempenhar sua função.
Partindo agora para uma análise rápida da parte técnica do filme, acho interessante apontar que esse é um filme para televisão. Assim, acredito que tenha sido por isso que algumas coisas destoam um pouco aos olhos, como a montagem característica de uma série dos anos 2000. A direção também segue a mesma linha, sendo bem simplista, e a narrativa muitas vezes me pareceu recorrer a acontecimentos muito forçados ou muito contrastantes com a verossimilhança de uma história real. Mesmo assim, ainda é possível entender por que essa história foi, digamos, resumida. A sua duração foi sintetizada para caber numa obra única e que abrangesse todo o desenrolar da vida profissional do Dr. Vivien, utilizando até elipses temporais bem extensas de vez em quando. Mesmo assim, algumas partes servem mais para comunicar um acontecimento do que mostrá-lo de fato. Com passagens mais simbólicas do que realísticas, é possível subentender o que o filme quer nos passar e assim a história conseguiu ficar mais fluida.
Não sei se essa parte tem a ver com o nível da produção, mas a atuação me pareceu um pouco divergente em certos pontos. De qualquer forma, essas mínimas incongruências não me afetaram de forma alguma. A trama me conseguiu cativar do início ao fim sem nenhum problema. Ainda mais com o fato – que eu já até mencionei em outros textos – de que eu não me importo muito com a atuação e por isso nem tento avaliá-la tanto assim. Acredito que os papéis aqui foram bem desempenhados, no final das contas, mesmo com uma certa dureza na atuação de vez em quando.
A temática é bastante tocante também, com a realidade da intolerância americana sendo posta como ponto central de mais uma história de vida individual, tirando o caminho de pessoas incríveis que não conseguiam alcançar o sucesso apenas pela cor de sua pele e que, mesmo sendo protagonistas de histórias impressionantes, eram postas como coadjuvantes de personagens, digamos, mais bem vistos na sociedade. Assim, a mensagem do filme consegue ser exposta com tranquilidade apenas pela nossa identificação com o protagonistas e com sua luta tão árdua nunca sendo recompensada à altura, mesmo com certo reconhecimento tardio. O filme apresenta uma estrutura bem simples, mas acredito que assim já funcione como uma boa maneira de ensinar e relembrar às novas gerações que pessoas negras, mulheres e tantas outras minorias sociais estavam presentes nos momentos mais grandiosos da história, mesmo que eles não apareçam nas fotos oficiais.
Para mim essa foi uma obra bem satisfatória e, mesmo com sua simplicidade, foi capaz de contar sua história com fluidez e coerência em relação à vida dos personagens centrais. Assim, funciona como qualquer biografia digna da vida de uma pessoa importante e demonstra sua distinção na história – em particular aqui, da medicina. Aliás, acho que esse seja um filme bem interessante para quem se interessa pela área pois apresenta uma linguagem e uma temática particular bem específica para médicos e profissionais da saúde.

Nota do autor:

Avaliação: 3 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalSomething the Lord Made
Lançamento2004
País de OrigemEUA
DistribuidoraHBO Films
Duração1h50m
DireçãoJoseph Sargent

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora