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Los Silencios [Crítica]

“Os Silêncios” é uma coprodução do Brasil com a Colômbia e a França que traz uma história intimista, mas que se relaciona muito bem com a realidade de uma localidade na fronteira entre o Peru, a Colômbia e o próprio Brasil. A situação conturbada da região é o plano de fundo perspicazmente trazido para um longa que, além dessa discussão base, traz outros diálogos que se relacionam muito bem com a vivência dos moradores locais. O fato de o filme ser baseado em memórias de um diálogo que a diretora teve com uma pessoa do lugar evidencia ainda mais um cuidado que a produção teve para retratar as diversas facetas da vida cotidiana dos moradores da Ilha de Santa Rosa de Yavarí.
Acompanhamos uma mãe que acaba de se mudar para a Ilha de Yavarí e, enquanto seus filhos precisam se adaptar, ela busca conseguir apoio dos moradores para sobreviver, já que seu marido está desaparecido depois de entrar num conflito territorial da região. A vida da família começa a ser influenciada pela comunidade em que vivem e em meio a tudo isso, acompanhamos uma jornada de aceitação e redescobertas permeada por um mistério singular.
No acompanhar do dia a dia de Amparo, a nossa protagonista, somos apresentados, assim como ela, a uma comunidade ribeirinha que vive nas margens do Rio Amazonas e que sofre com a grande especulação geográfica da região fronteiriça. No decorrer do processo de familiarização com o local, somos apresentados aos dramas da família de Amparo, enquanto conhecemos pouco a pouco cada vez mais sua família.
A condução da narrativa é afiada em nos comunicar o suficiente sem dar-nos tudo de bandeja de uma só vez. Assim, a trama vai nos apresentando aos poucos os pontos-chave da narrativa, numa sequência tão calma, quanto interessante. Os personagens também vão nos transmitindo seus anseios e suas personalidades através de gestos e ações simples que no fim da experiência se mostram mais reveladores do que nós poderíamos imaginar à primeira vista.
Nos momentos mais contemplativos, onde podemos observar a natureza, é possível perceber mais alguns méritos do filme. A sua ótima fotografia e o som ambiente maravilhoso, trazendo os sons da floresta e dos animais com um cuidado ímpar. Esse foi um ponto importante para preencher os momentos de transição do longa. A direção sabe utilizar muito bem o ambiente ao seu redor para criar uma ideia de mutabilidade do local, aproveitando as paisagens antes, durante e depois da cheia do rio, um acontecimento que de fato mexe totalmente com a vida dos moradores locais.
Com o desenrolar da história, vamos descobrindo mais camadas de veracidade nos fatos apresentados no filme. A utilização de não-atores locais traz muito bem essa autenticidade para a obra. Os seus problemas sendo tratados por eles mesmos dá essa perspectiva de sensibilidade com as questões que são tratadas não meramente como um plano de fundo, como imaginamos no início, mas como o foco narrativo principal ao decorrer do filme.
A forma como o drama específico se relaciona com o drama geral é um ponto de acerto enorme do filme e a reviravolta, que nem chega a ser o grande triunfo do filme, ao fim, nos deixa extremamente tocados, principalmente contando com uma cena final icônica e extremamente encantadora, pelo menos na minha experiência.
Enfim, esse é um filme que comunica sua mensagem através de um simbolismo elegante e aborda um drama social e familiar de forma coesa, sem deixar nenhum dos dois com pouco desenvolvimento, mesmo com a pouca duração da obra. É um daqueles filmes que se, de algum modo, você achar perdido em algum lugar pode ser uma surpresa única de perceber como nosso cinema local pode ser atraente e bem executado, mesmo não sendo muito notado.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalLos Silencios
Lançamento2018
País de OrigemBrasil/Colômbia/França
DistribuidoraVitrine Filmes
Duração1h28m
DireçãoBeatriz Seigner

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