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O Fantasma Apaixonado [Crítica]

Eu simplesmente não sabia que estava indo assistir esse filme quando o fui. Tem surpresa maior que essa? Este foi um dos filmes que me deparei em decorrência do meu curso de cinema na universidade e eu achava, por uma desatenção aos horários, que ia assistir um dos próximos filmes que acabei assistindo também nesse dia. Justamente por nem saber da existência desse filme, quando a sessão começou as surpresas que eu tive foram muitas e posso afirmar que a grande maioria foram muito positivas. Esse é um filme de 1947 que conseguiu me cativar e contar sua história sem deixar a minha imersão cair nem por um instante.
Na trama conhecemos uma viúva que procura uma nova morada para se estabelecer com sua filhinha depois de perder seu marido e encontra uma casa peculiar isolada no alto de uma colina de frente para o mar. Mesmo avisada pelo corretor de imóveis que aquela casa não serviria para ela, a mulher permanece na residência e é surpreendida por uma presença inesperada, mas a enfrenta com audácia. Levando em consideração o título do filme, essa surpresa não é tão grande assim. Esse morador, que na verdade era o verdadeiro dono da casa, acaba estabelecendo uma relação muito profunda com a jovem senhora Lucy e juntos desenvolvem uma relação, aí sim, possivelmente inesperada.
Como eu não sabia o que esperar do filme, logo no início eu até tive a impressão de que poderia se tratar de um suspense ou talvez um terror. O desenvolvimento veloz da trama até a chegada a residência “assombrada” acabou me deixando a sensação que ali sim o longa começaria a investir no suspense sobrenatural. E algumas sequências realmente são capazes de causar alguns sustos, mas logo no primeiro confronto, que aliás é uma boa surpresa quanto a atitude da protagonista, o filme já apresenta uma mudança de tom com um fantasma muito cordial para algo que parecia ser tão assustador. Ao final, como o título adaptado da obra também deixa a entender, o filme acaba se desenvolvendo como um romance, bem menos sobrenatural do que “prometeu” no início, mas ainda assim, bem interessante. Além de tudo isso, depois de ressaltar o peso central do romance, acredito que existam até mesmo algumas tiradas cômicas bem encaixadas que funcionam bem e não desgastam de nenhuma forma o filme.
Após adotar uma pegada mais “pé no chão”, se é que podemos dizer assim, o filme apresenta um desenvolvimento de personagens muito coerente e engajante com a relação entre os protagonistas e os personagens secundários bem correlacionados e com boas surpresas ao longo do caminho. Surpresas essas que carregam a trama para rumos bem inesperados. Além disso, com o final da obra percebemos que não houve nenhuma ponta solta, pelo menos a meu ver. Tudo se encaixa bonitinho e eu sou obrigado a afirmar que esse longa realmente me surpreendeu.
Um ponto que se deve ressaltar é a bela fotografia em preto e branco que o filme tem e seu apresso pelos detalhes dos cenários e das paisagens que surgem ao longo da obra. A casa em que o filme se passa apresenta uma boa apresentação da geografia e os detalhes de cenário ajudam a dar algumas camadas a mais no desenvolvimento da trama. Os recursos técnicos, no geral, para um filme da época, como exemplo dos movimentos de câmera, – em especial numa cena em que os personagens sobem a escada da casa – me pareceram bem sofisticados para um filme de 47.
Algo que me tocou bastante no que diz respeito a relação entre os protagonistas da obra foi como cada um lida com suas limitações para conseguir manter o contato ou abdicar desse contato para seguir seus princípios quando necessário. A relação de amor improvável traz a tona uma discussão interessante de até onde o amor por alguém faz você abdicar da sua felicidade em propósito da felicidade dessa pessoa. No filme temos uma surpresa em decorrência do desenrolar dessa questão citada, mas a sua finalização consegue ser ainda mais surpreendente, mas ao mesmo tempo bem satisfatória. Ao final da experiência, a sensação que fica é que essa obra atingiu o seu sucesso devido tanto à exposição, quanto à execução da sua trama.
Acho que certamente eu não assistiria esse filme em qualquer outra circunstância, mas agora eu posso dizer que fico extremamente feliz de tê-lo descoberto e experienciado essa obra que mostrou pra mim, mais uma vez, que não se deve julgar um filme pelo ano ou pelos seus primeiros minutos. Não sei se pode ser uma experiência tão satisfatória para todos os espectadores desavisados, mas pra mim, que estava exatamente nesse lugar, foi uma bela surpresa.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalThe Ghost and Mrs. Muir
Lançamento1947
País de OrigemEUA
Distribuidora20th Century Fox
Duração1h44m
DireçãoJoseph L. Mankiewicz

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