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Tempos Modernos [Crítica]

Um dos filmes mais clássicos do cinema mundial, Tempos Modernos é uma obra-prima do diretor, ator, comediante, produtor, compositor e gênio do cinema Charlie Chaplin que permanece atual mesmo com quase 90 anos de idade. Na metade do filme eu fiquei me perguntando por que eu nunca tinha parado para assistir algum filme do Chaplin na vida. Me arrependi profundamente por nunca ter visto uma obra dele, mas me surpreendi bastante com essa primeira experiência e por perceber como ela se mantém atemporal e extremamente divertida.
Com a cena clássica que compara os trabalhadores de uma fábrica a um rebanho de ovelhas prontas para o abate, conhecemos um peculiar trabalhador que desempenha a repetitiva função de apertar parafusos numa linha de produção. Desgastado com o serviço, ele acaba sendo demitido da fábrica após uma crise de nervos, tendo que tentar encontrar diferentes formas de sobreviver. Numa de suas peripécias, ele encontra uma moça que vive uma situação semelhante de privação e juntos eles permanecem na busca pela sobrevivência nesses tão cruéis tempos de modernidade.
Caramba, que filme bom! São tantas as camadas que fazem desse filme uma das minhas melhores experiências com filmes clássicos. Primeiramente, em relação às críticas sociais ao capitalismo e aos problemas criados com o progresso da sociedade. São certeiras e muito bem elaboradas ao longo de toda a duração do filme. São expostos vários problemas sociais que parecem se somar e demonstrar a irreal vida que o consumismo tenta vender. Não só em relação à industrialização e a exploração dos funcionários por seus gananciosos patrões, mas as passagens também tocam em pontos como a fome, moradia, repressão policial, família e mais algumas coisas mais sutis. Além disso, os diversos problemas abordados são apresentados envoltos em uma comédia leve e pastelona, mas que não deixam de demonstrar como eles são verídicos e deprimentes.
Falando em comédia, esse é mais um dos grandes triunfos do filme. Foram muitas as vezes que o filme me arrancou gargalhadas. O estilo clássico do Chaplin aparece aqui em uma de suas melhores formas. Com um protagonista atrapalhado, a criatividade cômica dele é capaz de nos surpreender o tempo todo. Notável também são as qualidades técnicas do filme. São sobreposições de cenas, engenhocas complexas que compõem os cenários das fábricas e o presságio de futuras tecnologias que iriam surgir apenas décadas depois. Além disso, sua escolha por fazer um filme que alterna entre as falas e as mímicas e intertítulos para se comunicar com o espectador são mais um acerto por favorecer a sua clássica forma de atuação. Tudo isso ajuda a criar um universo impressionante, mas que esconde as sombras da realidade expostas de forma ainda mais eloquente.
Por sua grande capacidade de expor a realidade de forma crítica e sua grande popularidade, Charlie Chaplin sofreu uma perseguição e teve que deixar os Estados Unidos. Acusado de ser comunista por se contrapor em seus filmes aos ideias conservadores de sua época, Chaplin nos deixa mensagens ainda atuais e que podem ser apreciadas numa comédia leve, mas com profundidade social tocante. Suas trapalhadas clássicas e sua comicidade expõem uma beleza única e uma sutileza surreal na abordagem de temas complicados para o período. Bonito ainda é a maneira como o filme termina, com um ar de perseverança e busca por um tão sonhado futuro que parece impossível, ao contrário do que a sociedade tenta vender.
Acho que esse filme não perde em nada pela distância temporal e pode ser experienciado por qualquer um ainda hoje. Por isso e por sua importância enorme para o cinema, Chaplin consegue ainda hoje transmitir suas mensagens com louvor. E como ele mesmo falou, “o humor desperta o nosso sentido de sobrevivência e preserva a nossa saúde mental”. Assim, indico que quem, assim como eu, não tinha dado uma chance para algum clássico do cineasta, busque experienciar essa obra incrível. Talvez por isso tenha também me contido na expositividade em relação a essa obra porque ela merece ser descoberta por cada um com seus próprios olhos.

Nota do autor:

Avaliação: 4 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalModern Times
Lançamento1936
País de OrigemEUA
DistribuidoraCharles Chaplin Productions
Duração1h27m
DireçãoCharles Chaplin

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