Crônica de um Verão é um documentário francês que faz parte de uma corrente cinematográfica chamada Cinema-Verdade. O filme tenta retratar a realidade crua, mas sofre questionamentos até mesmo dos participantes do documentário. Os questionamentos gerados são bastante interessantes para refletir sobre o cinema e sobre a realidade e o contraste que muitas vezes existe entre os dois.
Acompanhamos a jornada dos realizadores do documentário para encontrar histórias cotidianas de pessoas comuns de Paris no verão de 1960. Começamos a refletir juntamente com o filme com sua primeira indagação base: você é feliz? A produção começa a questionar pessoas aleatórias nas ruas de Paris com essa questão e as respostas retratam bem como as diferentes visões de mundo influenciam na interpretação da felicidade. A partir de então vamos conhecendo melhor algumas pessoas em específico como um operário de uma fábrica da Renault, uma imigrante italiana, uma judia que passou por um campo de concentração e um imigrante africano da Costa do Marfim. Cada um deles acrescenta um pouco da sua história de vida e dia a dia a narrativa do longa. Cada um tem uma perspectiva e uma visão de mundo diferente e às vezes contrastante. A partir do acompanhamento próximo da vida de cada um deles percebemos as facetas da vida que se conectam, muitas vezes, com a nossa realidade, mesmo com a distância temporal. É interessante perceber que o operário precisa pegar ônibus e trabalhar por horas num emprego que ele não consegue encontrar sentido e percebe que os outros ao seu redor fingem ser outras pessoas fora da fábrica para tentar alcançar algo parecido com a felicidade. Com passagens cotidianas, vamos conhecendo um pouco mais de cada um dos integrantes do documentário. Quando há então o encontro desses participantes, as conversas e as trocas de conhecimentos são uma boa maneira de conhecermos ainda mais a realidade da época. Assim, conhecemos também os defeitos da personalidade de cada um pois a câmera deixa transparecer a verdade em cada um deles, mesmo contida pelas intimidantes lentes e microfones. Esse é justamente um dos questionamentos trazidos ao final do filme quando os próprios participantes assistem ao material gravado e deixam suas opiniões acerca dele. Assim, com uma ferramenta metalinguística interessante podemos reconhecer o que pode ser reconhecido como “verdade” nesse Cinema-Verdade. Para alguns a presença da câmera já destrói qualquer resquício de naturalidade em cena, enquanto para outros o fato de não ter nenhum roteiro ou narrativa pré-estabelecida propõe uma representação autêntica da vida de cada um dos participantes. As críticas sobram também para as pessoas que fazem parte do longa e para o fato de como cada um deles expõem suas vidas às câmeras, umas contidas demais e outros explícitas demais. Por fim, os dois diretores acabam conversando e resumindo o que cada um deles sentiu gravando o filme, o que acaba também integrando-nos na conversa, nos fazendo refletir no quão real pode ser um filme, em vários sentidos.
A experiência de tentar fazer um cinema real exposta no longa foi uma boa e interessante surpresa, pra mim. Notável também como esse tipo de cinema deixou vários adeptos nos anos posteriores. É até difícil entender como é tão atraente acompanhar uma história de algo que podemos encontrar olhando para os lados no nosso dia a dia, mas esse exercício de olhar para o passado através das telas nos coloca em uma posição de proximidade que é um tanto quanto cativante, mesmo não sendo excepcionalmente memorável como obra, para mim.
Nota do autor:
Gabriel Santana
Título Original | Chronique d’un été (Paris 1960) |
Lançamento | 1961 |
País de Origem | França |
Distribuidora | MUBI |
Duração | 1h25m |
Direção | Edgar Morin, Jean Rouch |
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