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Intolerância [Crítica]

Filme épico de proporções ainda mais épicas de uma época longínqua do cinema, Intolerância é uma produção de D.W. Griffith que, em tese, seria uma espécie de pedido de desculpas depois da sua odiosa obra anterior “O Nascimento de uma Nação”. Com uma trama que tenta conectar passado e presente numa emaranhada linha narrativa que torna o filme ainda mais longo do que realmente é, ainda assim podemos encontrar muitas de suas características inovações técnicas que ficaram marcadas na história. Mesmo não sendo um filme extremamente correto, ao menos é possível analisar aqui com mais calma as suas inovadoras ideias cinematográficas sem uma trama racista que encobre qualquer feito notável, realidade do seu longa anterior.
Na trama somos apresentados a um livro da intolerância através dos tempos em que suas páginas guardam as 4 histórias que o filme irá nos contar. Quatro histórias essas que eu nem sou capaz de isolar e identificar tão bem. As mais marcantes passagens, entretanto, são a do tempo mais presente onde a intolerante sociedade aristocrática, preocupada apenas com seus interesses particulares, expõe uma mãe e seu filho a um destino terrível, enquanto a trama dos tempos da Babilônia, há 500 anos antes de Cristo, mostra uma mulher que dá sua vida em nome do amor que sente pelo seu soberano, o rei Belshazzar. Porém, existem outras passagens menores que eu realmente não me conectei tanto quanto essas duas onde há uma releitura do Massacre da Noite de São Bartolomeu e ainda reconstituições da vida de Cristo em algumas passagens marcantes. Tudo isso tentando ser conectado pelo elemento que uniria todas essas histórias: a intolerância humana.
O filme já começa se propondo a ser enorme e posso dizer que em certos pontos até consegue. Em relação a essas proporções megalomaníacas do diretor, a história da Babilônia é que se destaca com cenários enormes, milhares de pessoas em cena, movimentos de câmera sofisticados e uma direção mais frenética, dando um ar de epopeia a trama. Outras técnicas sofisticadas podem ser vistas nas demais passagens do longa com a alternância de closes, raccords, sobreposição de imagens e montagens paralelas que dão um ritmo e dinamismo maior ao filme. Além disso, travellings e movimentos de câmera aparecem com certa frequência, mesmo a câmera se mantendo estática na maioria das cenas. Esses são elementos notáveis da técnica cinematográfica do diretor que, aliado ao novo modelo de narrativa, ajudam a criar uma obra grandiosa – mas não cativante.
Mesmo com passagens magníficas de encher os olhos pela complexidade criativa, o vaivém temporal muitas vezes quebra a imersão e deixa o longa inchado demais. Talvez se apenas as duas histórias principais fossem mantidas e as demais transformadas em – sei lá – curtas-metragens, a progressão desse filme fosse favorecida. Tenho que concordar que algumas dessas alternâncias súbitas fazem sentido com a narrativa, principalmente no ato 2, pois auxiliam na criação da tensão que se espalha por todas as 4 passagens. Mesmo assim, nem todas as resoluções são marcantes porque a nossa atenção está frequentemente dividida e provavelmente todos os espectadores já elegeram suas tramas preferidas, às quais irão dar mais atenção. Assim, a antologia parece não suportar tantas histórias simultâneas, sem o desenvolvimento devido a cada uma delas.
Em relação a temática, é perceptível a tentativa de fazer uma espécie de crítica social, mas parece ainda mais uma forma de justificar ou se eximir de culpa por parte do diretor com uma trama abordando a intolerância. Se no seu filme anterior, Griffith, no primeiro ato, fez uma crítica antibélica, aqui acontece algo semelhante, utilizando do espetáculo, das grandes planos e da grandes proporções de ações em cena para causar impacto no espectador e tentar fazer sua mensagem ser entendida. Parte disso é alcançado, mas, acredito eu, que não da forma como idealizado. O contexto remoto nos faz desprender de qualquer profundidade temática se atentando apenas aos elementos visuais e sonoros do espetáculo em tela. A trilha sonora, com tom clássico e músicas de orquestra, tem papel fundamental nisto e compõem muito bem o ambiente épico de eventos extraordinários, principalmente nas passagens da Babilônia.
Mesmo com proporções astronômicas, o filme não teve uma boa recepção à época e se tornou um dos primeiros fracassos de Griffith e do cinema do período. A baixa bilheteria em comparação aos custos de produção foram decisivos para o futuro do cineasta. Ainda assim, é notável como um filme como esse foi produzido numa época em que as condições técnicas eram precárias em comparação às atuais e como ainda assim foi possível propor inovações revolucionárias na linguagem cinematográfica do seu tempo. Tudo isso, no entanto, não faz dessa obra uma experiência tão palatável, a meu ver, na atualidade.

Nota do autor:

Avaliação: 1.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalIntolerance: Love’s Struggle Throughout the Ages
Lançamento1916
País de OrigemEUA
DistribuidoraD.W. Griffith Productions
Duração2h43m
DireçãoD.W. Griffith

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