Outros posts:

Nunca Fui Santa [Crítica]

E lá vamos nós com mais um filme desconhecido recomendado para minha pessoa. Acho que isso é meu novo hobby, ein. Ainda não erraram, aliás. Essa obra aqui é uma sátira inteligentíssima e perspicaz que consegue extrair humor do absurdo que, absurdamente, podemos dizer que é baseado em fatos reais. Por mais que apresente uma forma bobinha, me foi um filme interessante o suficiente para expor suas ideias gerais.
Com Megan apresentando sintomas “terríveis” de homossexualidade, seus pais decidem aderir a um programa de reeducação sexual para sua filha e assim recoloca-la nos caminhos naturais (kkkkkkk). Não vou falar mais nada. Acho que esse é um dos filmes que tem mais falas absurdas por segundo quadrado que eu já vi, sério. Ainda bem que são parte de uma sátira muito bem estruturada para ironizar com a ideia de uma “cura gay” e com o imaginário preconceituoso que, aliás, ainda persiste mesmo 24 anos após o filme.
Uma coisa que esse filme me fez pensar é como ele estava afrente do seu tempo e em certo momento eu me peguei pensando também o quanto ele é corajoso para sua época. Porém, no final das contas, acho que essas minhas ideias só servem para provar o quanto a sociedade ainda se vê presa a uma mesma mentalidade retrógrada por anos. Vejamos como eu posso explicar: acho que não é o filme que está afrente do seu tempo, no final das contas, mas sim nossa sociedade que permanece atrasada em relação a ele, pois, por mais que essa seja uma sátira que já pode ser vista como extremamente irônica e apresenta um contexto incrivelmente absurdo hoje em dia, ainda podemos encontrar pessoas que concordem com os pensamentos preconceituosos que são justamente o que o filme ridiculariza. Espero ter-me feito entender.
Mas, voltando para o longa, eu achei sua estrutura e sua montagem peculiarmente parecida com uma sitcom antiga. Os cortes e a condução me fizeram lembrar do estilo de uma série de TV. Talvez seja justamente pela idade do filme, mas não é nada que seja um defeito, foi apenas um detalhe que me chamou a atenção. Aliás, até agrega ao filme por apresentar uma estrutura cômica padrão para fugir do padrão com sua temática. Outro ponto curioso são os detalhes que vão surgindo a todo o momento, isso sem contar as alusões explícitas que ficam claras na narrativa. Me refiro aos pequenos simbolismos que vão permeando todo o filme e que não se apresentam diretamente, mas que ajudam a dar mais conteúdo as cenas.
Entretanto, o filme não deixa de ser direto no que quer mostrar-nos. A incoerência e a hipocrisia são abundantes no desenvolvimento dos personagens alfinetados. Como eu falei, a quantidade de atrocidades aqui levantadas são piadas prontas para uma trama que consegue exaltar através da superlativação da maluquice os pontos centrais a serem inteligentemente questionados. São das mais diversas situações que explicitam a tamanha falta de sentido dos pensamentos conservadores ridicularizados.
Por um lado, achei o roteiro extremamente afiado nas suas indiretas diretas a sociedade, mas achei também que o desenvolvimento dos personagens poderia ser um pouco mais profundo e interessante. A trama, ao menos, independe desse desenrolar particular e se sustenta por si só pela sucessão de etapas do procedimento em execução. Não que não possamos entender a mente e os anseios de cada um, mas acho que as individualidades ficaram muito presas a estereótipos cômicos. Entretanto, esses estereótipos foram usados justamente como elementos da comédia do filme, então talvez essa interpretação seja somente uma cisma minha.
Por falar em estereótipos, é muito constrangedor ouvir a reafirmação dos mais chulos rótulos de gênero que são empurrados aos jovens numa estrutura social heteronormativa caricata explorada no filme. O humor de constrangimento é muito bem explorado em aliança a hipocrisia alimentada justamente pela quebra de expectativas que se sucedem aos montes. Acho que a vergonha alheia foi o sentimento que mais me cativou na comédia aqui.
Dessa forma, essa obra apresenta uma trama bobinha, mas bastante interessante que fala sobre uma questão inusitada, mas que acaba retratando muito bem uma realidade surreal que podemos presenciar e traz, através do sarcasmo e do deboche, uma mensagem que podemos encontrar em qualquer filme romântico padrão, mas que muito dificilmente é abrangente o suficiente para representar todo o público, aproveitando para deixar no caminho uma crítica social perspicaz.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalBut I’m a Cheerleader
Lançamento1999
País de OrigemEUA
DistribuidoraLionsgate
Duração1h25m
DireçãoJamie Babbit

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora