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O Anjo Exterminador [Crítica]

Filme surrealista do diretor espanhol Luis Buñuel, esta obra traz vários elementos que ficaram marcados no cinema influenciado pelo movimento de vanguarda surrealista. Aqui temos uma história curiosa que me chamou bastante atenção por se assemelhar a um outro clássico do surrealismo do diretor: “O Discreto Charme da Burguesia”. Sendo este aqui 10 anos mais velho, é possível perceber as influências e os primeiros toques característicos de autoria de Buñuel que posteriormente aparecerão no seu famoso filme citado.
A trama foi o que me tocou para assistir ao filme. Como eu estava pesquisando mais a respeito do diretor Luis Buñuel, sobre o surrealismo e sobre, principalmente, “O Discreto Charme da Burguesia”, acabei me deparando com essa outra produção dele que me pareceu importante para agregar conhecimento sobre suas obras. Posso confirmar que o que eu pretendia foi alcançado aqui. A história, como eu falei, é bastante curiosa e mostra um grupo de burgueses que se encontram para um jantar, na grande residência de um deles. Por mais que, aparentemente, as coisas estivessem andando bem, logo eventos estranhos começam a acontecer e misteriosamente todos ficam presos numa sala da casa com algo magicamente impedindo a circulação de pessoas, tanto de dentro pra fora, quanto de fora pra dentro.
A partir dessa premissa o diretor fica a vontade para começar a expor suas críticas aos personagens representados em cena. A claustrofóbica sensação de privação de liberdade, juntamente com o confinamento forçado, propiciam uma situação inusitada que acaba sendo o cenário perfeito para abordar os problemas morais daquelas pessoas e como elas agem, em comparação a sua postura na sociedade. Quando em situação de angústia, as máscaras sociais caem transparecendo a real personalidade de cada um deles e de sua classe como um todo. Temas como este são facilmente encontrados na filmografia do diretor e aqui essa abordagem é bastante peculiar.
Desde o começo do longa são possível encontrar detalhes que aparentemente não fazem sentido e contrastam com o tom teoricamente realista das passagens em cena, mas logo tudo vai começando a parecer surreal gradativamente. Essa utilização do escandaloso como forma de criticar os costumes, a moral e a mentalidade das pessoas de sua época são os pontos centrais da narrativa, pra mim. Por mais que o filme não seja tão empolgante ou envolvente como um todo, acredito que ele, ao menos, se mostre bastante coerente internamente, mesmo que isso pareça impossível para uma obra surreal. Mesmo com os elementos desconexos da realidade, frutos das passagens oníricas do inconsciente humano sempre abordados pelo movimento ao qual o filme faz parte, é possível perceber que os detalhes se conectam através da trama. Isso deu uma sensação de um roteiro meticulosamente armado para tal e conhecendo um pouco mais a respeito da forma de criação do diretor isso apenas se confirma.
Acredito que a distância temporal tenha tirado alguns pontos importantes na minha experiência. Mesmo que esteja bem conectada, tive uma constante sensação de progressão travada na trama. Cenas que vão se alternando parecem repetitivas e os dramas internos são tão desinteressantes que cansam. Assim, acredito que o contexto social como um todo e a burguesia sendo a real protagonista, a exemplo de “Discreto Charme”, sejam mais interessantes de se analisar do que qualquer individualidade apresentada. Os personagens são muitos e poucos se destacam frente a nossa curiosidade a respeito do contexto em si.
Enfim, acredito que essa pode ser uma obra interessante para quem tem interesse no gênero e também consegue carregar boas mensagens transmitidas por caminhos exóticos, do ponto de vista de uma narrativa clássica. O final, a meu ver, foi da mesma forma ambíguo pois apresentou uma resolução estranhamente forçada para novamente subverter as expectativas, assim como o filme faz na maior parte da sua duração. Algo bastante condizente com o estilo surrealista.
No final das contas, achei essa uma boa experiência para conhecer mais a respeito da história e apreciar uma obra interessante do passado, mas que não alcançou nada acima do mediano nas suas tentativas de surpreender ao espectador, no meu caso, claro. Considero novamente que, talvez, a distância temporal seja responsável pelo estranhamento ainda maior em relação a essa obra, mas que, com um pouco de interesse genuíno, podem desaparecer e favorecer uma imersão no universo do filme, mesmo que algumas passagens insistam em se opor a isso.

Nota do autor:

Avaliação: 2.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalEl ángel exterminador
Lançamento1962
País de OrigemMéxico
DistribuidoraMUBI
Duração1h35m
DireçãoLuis Buñuel

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