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Barbie [Crítica]

O que foi isso, Greta Gerwig? Eu já conhecia a diretora do filme “Adoráveis Mulheres”, que inclusive gosto bastante, mas estava ansioso para ver o resultado dessa superprodução. E não é que ela entregou tudo mais uma vez. Uma experiência muito boa, pra mim, com humor e conteúdo crítico sob medida, juntos numa embalagem perfeita para se tornar um sucesso estrondoso nas bilheterias.
Para qualquer um, é inegável dizer que não conhece a Barbie. Uma boneca que está presente na cultura pop desde sempre, praticamente, e já aí o filme pega um gancho para, além de fazer uma paródia incrível de uma cena marcante do cinema, introduzir a personagem no contexto da trama. Conhecemos então a Barbie e seu mundo, a “Barbielândia”, onde todos são Barbies e Kens, e tem um outro maluco lá também, mas tanto faz. Nesse mundo de fantasia tudo é sempre maravilhoso e incrível todos os dias – e rosa – mas algo estranhamente está começando a interferir nessa perfeição, justo da Barbie Estereotipada. Tenho que confessar que demorou alguns minutos para o filme me cativar. Obviamente eu estava esperando uma apresentação clichê dos personagens e do seu mundo, levando em consideração o contexto que o filme está abordando, mas as músicas e a condução me incomodaram um pouco. Porém, mal sabia eu que isso era parte da construção narrativa da história e logo tudo começou a fazer sentido – ou não – pra o enredo. Fazer sentido, na verdade, para o meu entendimento, pois tudo é facilmente entendível no que diz respeito a estrutura narrativa. Não há nada de tão espetacular ou subliminar aí. Diferentemente da trama em si, que aborda temas bem mais subentendidos nas entrelinhas do roteiro que poucos poderiam imaginar logo de cara que encontrariam num filme da Barbie. Mas essa realmente era a graça do projeto. Às vezes uma mistura que não faz sentido lógico acaba se tornando mais gostosa. É exatamente o que acontece aqui. O filme é hábil em transmitir as suas alfinetadas na sociedade, sendo explicitamente através da problemática dos personagens ou em piadinhas bem boladas que estão espalhadas por toda a duração do longa. Sendo um filme tão comercial, a ponto de o logotipo das empresas produtoras estarem estampados no próprio universo do filme, é uma ótima surpresa encontrar as críticas aqui expostas. Pontos chaves e pertinentemente abordados são a sociedade consumista e a estrutura patriarcal machista da sociedade contemporânea que tenta se maquiar de inclusiva atrás de poucas e falhas justificativas fracas e que ainda mantém um modo de pensar assustador e revoltante se alguém pudesse vê-lo de fora. E é basicamente isso que o filme tenta nos levar a fazer. Observar o que temos ao nosso redor refletido em um contexto fantástico/surreal. Por trás de toda a trama cômica há uma boa dose de reflexão acerca da sociedade, da disparidade de gêneros e ainda surge espaço para uma reflexão do que é ser humano, principalmente no mundo de hoje. Um mundo onde quem não se encaixa nos modelos de “ser” é excluído. O longa é espetacular em vários sentidos, seja na sua estrutura e direção mirabolantes em certo nível, seja nas facilitações entendíveis coerentes ao tom do projeto e principalmente no peso que o filme vai ganhando sem que percebêssemos até se tornar uma autocrítica reversa, ao contrário, indireta, mas direta da nossa realidade. É exatamente isso – ou não também. Esse não é um dos meus textos mais longos à toa. O filme consegue trazer e apresentar conteúdo para discussão como poucos e têm consciência disso, até mesmo brincando com a sua ótima escalação de elenco só pra fazer mais uma piada interna. Há um monólogo em específico que quase me fez levantar da poltrona pra aplaudir, o que também fica explicitado na reação dos personagens em tela, quase em êxtase. Um contraste perfeito à narrativa cômica que carrega o filme e que agrega bastante a nossa experiência. Além do mais, suas reflexões finais que abordam os temas apresentados ao longo da narrativa, sem nunca tirar de cena o humor característico do projeto, tem uma boa dose de emoções. Apresentando sacadas cômicas muito boas e uma trama engajante e engraçada, sem perder o espaço da seriedade intrínseca aos temas abordados, temos aqui um belo exemplar de diversão coesa e satisfatória que faz valer o ingresso.
Quando conheci o projeto e poucas características a seu respeito, como por exemplo a diretora por trás, me blindei de tudo que pude para ter uma experiência mais autêntica possível e posso afirmar que essa foi, com certeza, uma experiência marcante. Quem poderia imaginar que fazendo uma autocrítica a Barbie se tornaria mais uma vez um sucesso comercial e influenciaria tanto a sociedade dessa maneira? Posso realmente ter me empolgado um pouco demais com o filme, mas, sem nenhum receio, eu posso afirmar que essa é, no mínimo, uma experiência muito interessante para qualquer um que se aventurar.
(P.S.: é o filme do ano, não tem jeito)

Nota do autor:

Avaliação: 4.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalBarbie
Lançamento2023
País de OrigemEUA/Reino Unido
DistribuidoraWarner Bros. Pictures
Duração1h54m
DireçãoGreta Gerwig

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