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Pobres Criaturas [Crítica]

Indicado ao Oscar, “Pobres Criaturas” havia me interessado desde que eu ouvi falar pela primeira vez sobre ele. Então nada melhor do que ir logo no cinema assistir ao filme ao invés de esperar ele ficar disponível online, não é mesmo? E foi exatamente isso que eu fiz. E, nossa… Que experiência. Já adianto que eu não vou conseguir e nem vou tentar resumir a minha experiência aqui em um texto tão curto. O que eu recomendo mesmo é que cada um que se interessar vá ver o filme – assim como eu indico para qualquer outra obra, na verdade. Mas esse filme possui tantas camadas de desenvolvimento que são capazes de surpreender sem parar do início ou fim.
Nessa espécie de atualização do Frankenstein – ou um Frankenstein moderno – um cirurgião excêntrico desenvolve um experimento arriscado para tentar revolucionar a ciência e precisa lidar com a sua criação tanto física quanto psicologicamente. A sua “filha” demanda muitos cuidados, mas logo vai se desenvolvendo em uma velocidade exponencial que acaba até mesmo afastando as pessoas mais próximas que sempre são bastante restritivas. Assim, Bella, a criação do Dr. Godwin Baxter, decide descobrir o mundo com seus próprios olhos, assim como qualquer jovem sonhador e aventureiro. Mas o que ela acaba descobrindo são as paradoxais estruturas de uma sociedade baseada, muitas vezes, em aparências.
Ressalto mais uma vez a minha admiração: que filme! O longa vai se revelando aos poucos e cada vez mais foi me conquistando, restando somente uma única questão na minha cabeça: até onde ele vai ser capaz de ir? E quando ele chega no seu ápice ainda foi capaz de extrapolar essas expectativas. Mesmo assim, no início a sensação de incômodo me pegou. Até certo ponto eu ainda estava meio desnorteado tentando entender o que realmente aquela obra estava ou iria abordar. Mas logo ela me respondeu, sem muito esforço.
Mas uma coisa eu tenho que dizer sim: o filme é muito estranho. Pelo menos no que diz respeito a obras convencionais hollywoodianas, como base de comparação. Então se você não está familiarizado com obras mais diversas, o estranhamento pode ser um pouco maior. Como eu sempre dou tempo e espaço para obras diferentes me conquistarem, com essa aqui não foi diferente. Mas tenho que admitir que nos primeiros minutos eu me senti desnorteado. Isso também se deve muito ao fato de uma escolha da fotografia que eu primordialmente não entendi muito bem o motivo. Isso ainda me deixou ainda mais inquieto porque no restante da obra eu achei a fotografia desse filme maravilhosa. Mas com um certo tempo para interpretar os fatos, correlacionando a fotografia com a narrativa, as coisas começaram a se encaixar e eu consegui encontrar um sentido coerente para tais escolhas. Acredito que tenha alguma ligação com o mistério que pairava pelo ar nos primeiros minutos, mas a fotografia em cores é tão bonita e marcante que é o preto e branco fica até ofuscado no início do filme.
A jornada de descobertas, desenvolvimento pessoal e aventuras acaba revelando muitas verdades e realidades complicadas do nosso mundo mesmo num universo tão díspar e único como o desse longa. Aliás, esse universo é bem peculiar e interessante, mesmo que seja uma representação quase que perfeita, mas caricata, do mundo real. Os problemas são expostos e abordados de maneira inteligente e muitas vezes divertida. O ímpeto da protagonista de sempre experimentar, descobrir e aprender mais é cativante e, se no começo eu no começo eu não tinha me conectado tão fortemente com ela, com as explicações e uma melhor imersão foi possível atingir um nível de empatia interessante, até mesmo para entender suas motivações inusitadas do final do longa.
O humor do filme também é muito perspicaz, causando riso até mesmo por parte da linguagem erudita de alguns personagens. As piadas da ingenuidade da protagonista também funcionam muito bem e as ocasiões em que ela se envolve proposital ou acidentalmente são genuinamente divertidas, na maioria das vezes. Acredito que pra mim esse foi um dos filmes em que a experiência só foi melhorando exponencialmente. De um início meio estranho e confuso, a trama vai abordando tantos assuntos de maneira inesperada e inteligente que quando damos conta do que o filme realmente aborda, já fomos conquistados totalmente. Daí pra frente só melhora, na minha visão.
Como eu já mencionei, acho que esse texto não é capaz de resumir nem mesmo a minha própria experiência com o filme e, com isso, ressalto a minha recomendação para aqueles que pretendem viver uma viagem alucinante através de um filme “diferenciado”. Mesmo com essa pegada própria, acho que o filme é capaz de discutir temas importantes de uma maneira perspicaz e sem omitir ou atribuir julgamentos precipitados, mas indo até o final nas suas ideias e conceitos base. Uma obra realmente surpreendente.

Nota do autor:

Avaliação: 4 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalPoor Things
Lançamento2023
País de OrigemIrlanda/Reino Unido/EUA/Hungria
DistribuidoraSearchlight Pictures
Duração2h21m
DireçãoYorgos Lanthimos

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