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Vidas Passadas [Crítica]

Indicado ao Oscar de Melhor Filme, “Vidas Passadas” traz uma história de amor não convencional. O filme que, apesar de me tirar alguns suspiros de incômodo no seu desenvolvimento, conseguiu me reconquistar completamente com sua conclusão. Essa obra foi uma viagem íntima e até angustiante, às vezes, pelas linhas mal escritas de uma paixão não correspondida.
O relacionamento de duas crianças acaba sendo interrompido quando uma delas têm que se mudar do Japão para a América. A vida delas continua, mas a conexão permanece forte, ao menos por parte de um dos envolvidos na relação. Após um breve relacionamento a distância 12 anos depois da separação, o reencontro só acontece 24 anos mais tarde com a vida de cada um muito diferente do que era antes. Essa jornada de reencontro e de reconstituição da vida de cada um nos guarda situações inusitadas e excêntricas, mas muito tocantes.
Uma das coisas que mais me encantaram no filme foi a sua condução sóbria e cautelosa que estrutura a história de maneira fluida e coerente. Por mais que esses anos todos que a trama percorre pudessem acabar gerando uma estranheza em relação aos personagens que permanecem os mesmos, as sutilezas dos detalhes que vão sendo apresentados ajudam a dar mais camadas de veracidade para cada uma daquelas pessoas. Assim, o filme consegue ser muito humano e tocante. É essa direção também que opta por alongar algumas sequências além do comum com o objetivo de alcançar efeitos diversos no espectador. No meu caso, os mais proeminentes deles foram o sentimento de desconforto, a empatia e a satisfação.
Nesse sentido, pra falar a verdade, a minha experiência foi um pouco desgastante e algumas situações e atitudes dos personagens me incomodaram por uma certa incoerência à primeira vista. Mas com mais alguns momentos de reflexão propostos pelo próprio filme as coisas começaram a ficar mais entendíveis porque o desenvolvimento da problemática final e a discussão que certo personagem levanta acaba expondo que a causa do meu incômodo era o próprio ser humano que é naturalmente incoerente muitas vezes na sua vida. Assim, os pontos de incômodo não vinham de problemas do roteiro, mas justamente da perspicaz abordagem realística de uma situação muito ímpar e complicada num relacionamento humano.
A relação estreita que o casal tinha na infância não pode e nem consegue se refletir no presente, ainda mais porque outras pessoas estão envolvidos no assunto. Essa problemática é interessante, mas assim mesmo, muito disso é exposto de maneiras ambíguas. Várias situações, por exemplo, são tão constrangedoras que foi impossível não dar risada. Isso aconteceu comigo e também com boa parte da sessão em que eu estava. Outras, porém, apresentam uma carga dramática e sentimental muito marcantes. Essa viagem que o filme faz por entre as emoções humanas dá uma consistência única para esse que seria só mais um “dramazinho” qualquer.
A finalização foi pra mim muito satisfatória. De longe, a parte que mais me conquistou do filme. O longa acabou exatamente onde ele tinha que acabar. Acredito que se ele se estendesse por mais tempo a minha imersão teria sido prejudicada. Mesmo não sendo uma história satisfatória de se acompanhar, do ponto de vista dos desdobramentos internos aos personagens e ao destino que não é convencional, o drama é crível e não há como apontar culpados ou erros claros, mas sim compreender os acontecimentos e os anseios e receios humanos que possibilitaram aquela situação peculiar. Eu, particularmente, gosto bastante de filmes assim que deixam nós mesmos em dúvida do que faríamos naquela situação pois não há muito de certo ou errado, mas sim de compreensão e empatia, como deveria ser em qualquer relação humana.
Enfim, essa é uma obra tocante e que apresenta um desenrolar peculiar, no final das contas. De todo modo, ele é capaz de conquistar-nos sem dificuldades devido a uma condução excepcional e uma história curiosa e interessante que nos captura do início ao fim. Talvez eu nem tenha sido um dos maiores adeptos desse filme, mas consigo entender sua beleza e perceber as suas qualidades e características mais distintas.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalPast Lives
Lançamento2023
País de OrigemEUA/Coreia do Sul
DistribuidoraA24
Duração1h45m
DireçãoCeline Song

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