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Anatomia de Uma Queda [Crítica]

Filme que me conquistou pela sua premissa e que me guardou mais surpresas do que eu esperava, “Anatomia de Uma Queda” é um drama de mistério que se encaixa em um subgênero que eu tenho um apresso enorme. Adiante no texto falarei sobre isso, mas já antecipo que o filme me agradou muito e o que pode parecer meio decepcionante para alguns, de certa forma, para mim foi um dos grandes acertos da obra.
Em um dia aparentemente normal num chalé nos Alpes Franceses, uma família é surpreendida por uma morte repentina e misteriosa do pai, Samuel. Sandra, a mãe, e seu filho Daniel, além de sofrerem com o choque inicial, são convocados para prestar contas sobre o ocorrido, com um cerco cada vez maior se fechando na figura da esposa, com quem o marido tinha um relacionamento conturbado. A investigação que se segue revela cada vez mais detalhes e mais intrigas que parecem deixar a explicação cada vez mais complicada ao invés de solucioná-la.
O subgênero ao qual me referi no começo do texto foi o de filmes de julgamento. Aliado a isso, ainda temos aqui uma ótima trama de investigação e mistério que torna o clima tenso permanentemente. A nossa dúvida e a busca pelas explicações não nos deixam respirar um minuto e todas as hipóteses que o filme levanta por algum momento passam pela nossa mente como verdade, mesmo que as incertezas as façam se alternar constantemente.
Uma coisa que eu preciso ressaltar são as interpretações fantásticas de cada um dos atores principais. Principalmente da protagonista. Uma cena de discussão em específico que é crucial para o desenrolar da história e se passa como flashback no final do longa é excepcional. Acho que isso foi um atributo ímpar para dar um ar de veracidade e criar uma atmosfera de realidade para tudo aquilo. Além disso, o tom adotado é bem humano e íntimo, sempre demonstrando nas atuações e nos pequenos detalhes que cada um daqueles personagens tinha uma vida antes do ocorrido, com seus próprios problemas, intenções, desejos e defeitos.
A relação entre os personagens esconde muito mais do que os diálogos podem contar. E isso pode ser percebido com um pouco mais de atenção. Perceber isso torna-se recompensador quando o filme vai entregando cada vez mais detalhes e informações com o desenrolar da história, esclarecendo cada um daqueles trejeitos iniciais. A investigação vai ganhando ares de sensacionalismo com a cobertura da mídia e a fama dos envolvidos com a área literária, principalmente da Sandra, ajudam a alimentar ainda mais suspeitas sob ela. É isso que me agrada em filme de julgamento. É muito satisfatória pra mim acompanhar a retórica da defesa e da acusação, sempre com pistas e fatos novos, tentando convencer o júri da sua versão, e consequentemente a nós também do outro lado da tela.
Na verdade, pra mim, o que acontece aqui nesse filme é uma desconstrução das nossas expectativas e nossas convicções. Primeiro temos a apresentação de um acontecimento impactante e misterioso, mas que há um culpado tão claro que nós logo descartamos por ser óbvio demais. Porém esse óbvio é o único que faz algum sentido até certo ponto. Só que outras hipóteses começam a ser introduzidas à trama. Nisso, nós – pelo menos, eu – ficamos desnorteados apenas esperando para saber o que realmente aconteceu. E foi essa a minha experiência no final: apenas esperar, sem perder mais tempo tentando desvendar o mistério. Acho que podem confundir esse filme com um thriller policial, mas esse é um drama familiar e isso afeta totalmente a forma como você enxerga essa dinâmica, que pra mim foi primorosa.
E agora um único spoiler para a minha consideração final. A incerteza permanece na conclusão, mas como o próprio filme expõe: imaginar que uma escritora matou seu marido como numa de suas narrativas literárias é muito mais interessante do que apenas um suicídio. Ou seja, sempre esperamos o espetacular, mas talvez o mais crível seja o mais simples. Isso é o que acontece no universo do filme e o que nos ocorre aqui fora como espectadores. Mesmo assim, o final fica em aberto e possivelmente, de uma forma ou de outra, a mulher teve envolvimento na morte do seu marido. Na verdade, esse final em aberto é uma interpretação minha, mas outra pessoa pode ter suas próprias convicções, como eu disse lá em cima.
Que filme engajante. Me prendeu do início ao fim, desde os mínimos detalhes até as surpresas mais chocantes. A atuação me conquistou, o ritmo poderia ser mais ágil, mas como eu disse, esse é um filme disfarçado e, no final das contas, a dinâmica faz todo o sentido. Enfim, uma bela surpresa para minha lista de filmes até então desconhecidos.

Nota do autor:

Avaliação: 3.5 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginalAnatomie d’une chute
Lançamento2023
País de OrigemFrança
DistribuidoraDiamond Films
Duração2h31m
DireçãoJustine Triet

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