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eXistenZ [Crítica]

Este é um filme do diretor canadense David Cronenberg, conhecido por suas obras peculiares e surreais. Neste exemplar podemos encontrar isso dentro de uma trama que apresenta um contexto que nos dias de hoje podemos afirmar que estava afrente do seu tempo, com boas reflexões sobre a modernidade e os avanços da tecnologia.
“eXistenZ” é um novo jogo de videogame super imersivo que está prestes a ser lançado pela maior desenvolvedora de jogos do planeta, Allegra Geller. O game pode ser acessado por um tipo de console que se conecta diretamente ao corpo humano, numa espécie de simbiose entre o player e o videogame – aqui já começam as maluquices do Cronenberg. Porém, durante uma apresentação de testes para o público Allegra é atacada por um radical “antigames” que a obriga a fugir com um funcionário da empresa que está produzindo o seu jogo. Juntos eles têm que descobrir o que realmente está acontecendo no seu mundo e o que fazer para salvar o game que foi danificado após o atentado.
Desde o início do filme, com o tema e a apresentação do jogo altamente imersivo, eu já comecei a me perguntar se tudo aquilo não já seria o próprio jogo, sendo todos eles apenas personagens. Durante a narrativa alguns detalhes me chamavam ainda mais atenção pra essa hipótese e me deixaram ainda mais inquietos. Inquietude é um sentimento que esse filme gera com muita facilidade no espectador, seja pelos seus elementos visuais exóticos, seja por sua narrativa em abismo. Esse tipo de narrativa, que apresenta uma trama dentro de outra, conectadas entre si, mas que muitas vezes se confundem é o que chamamos narrativa em abismo (“Mise en abyme”, do francês) e ela foi muito bem utilizada aqui.
Com toda essa linguagem complexa para se comunicar com o público o que o filme quer realmente suscitar é a reflexão a respeito das novas tecnologias e de como elas são capazes de alterar nossa realidade, mas muito além disso, como sabemos o que é a nossa realidade, quais são os limites do real: os limites do nosso corpo; da nossa mente? Esses questionamentos vão surgindo na nossa cabeça demonstrando uma discussão filosófica interessante que o filme desperta.
A “Mise en abyme” pode ser vista ainda no transito entre realidades que há no filme, com elementos que se misturam e com o surrealismo nas cenas contrastando com a nossa própria realidade fora das telas. Há nisso tudo metáforas com o mundo real, pertinentes e atuais mesmo sendo um longa de 1999, como em relação a disputa de grandes empresas pelo controle de uma tecnologia; a respeito da religião e da criação do mundo em comparação ao ato de criar um novo mundo dentro dos games. Esse poder de criação é uma parte interessante, já que o jogo é, de certa forma, produção do imaginário dos players – o que pode sugerir algo a respeito da criação da nossa própria realidade.
A sensação que o filme causa é de um desnorteamento consciente que nos faz questionar tudo o que estamos vendo, mas de uma maneira positiva. Gostei muito da dinâmica do jogo dentro do filme e como algumas características clássicas dos games, como NPCs e cutscenes, foram adicionadas numa época em que a sexta geração de consoles ainda engatinhava. Por outro lado, algumas decisões são questionáveis de uma outra forma. A dinâmica enrolada traz efeito positivo, mas traz uma constante apatia pelos personagens, pelo menos no meu caso, pois não sabemos se nada é real, consequentemente não importa muito o que aconteça a eles – algo que fica ainda mais claro na sequência final. Falando no final do filme, a última e emblemática frase – “isso ainda é o jogo?” – é marcante e resume bem tudo o que foi abordado.
Achei esse um filme inovador e bem afrente do seu tempo com boas críticas e reflexões sobre a realidade e sobre a existência humana (olha só). Há relações com o filme “Matrix”, do mesmo ano e com o mesmo plot que encontramos por lá. Acredito que a linguagem de Matrix seja mais acessível e o filme se desenrole de uma maneira superior, como um todo, mas eXistenZ não deixa de ser uma experiência interessante que pode acrescentar boas camadas a essa discussão sobre o real, tão contemporânea até hoje.

Nota do autor:

Avaliação: 3 de 5.

Gabriel Santana

Título OriginaleXistenZ
Lançamento1999
País de OrigemCanadá/Reino Unido/França
DistribuidoraColumbia TriStar
Duração1h37m
DireçãoDavid Cronenberg

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